"É procurando palavras que se encontram pensamentos."
(Joseph Joubert)
(Joseph Joubert)
Continuamos a partilhar um pouco dos nossos primeiros dias de voluntariado nos projectos do GASPorto Jovens.
Era mais um dia da minha semana, mil e uma coisas para fazer, mil e uma coisas para pensar. Mas tinha chegado o tal momento e as expectativas, a vontade e a ansiedade de o concretizar emergiam e tiravam o protagonismo a todas as outras ideias que dançavam freneticamente na minha cabeça. Ia visitar pela primeira vez a Oficina de S. José e isso representava para mim algo de importante, algo que desejava muito, mas ao mesmo tempo algo que receava.
Senti necessidade de parar e pensar nos meus medos, nas minhas vontades, motivações, desejos e expectativas. Confesso que não tive muito tempo e que tal se realizou no caminho da Faculdade à rua Alexandre Herculano, entre semáforos e passadeiras, entre travagens e acelerações, que pareciam representar um prolongamento do trânsito da via rodoviária dos meus pensamentos.
Estacionei o carro e fiquei a olhar a casa de paredes caiadas a um cor-de-rosa sujo, descuidado e ignorado pelos transeuntes. A Di e a Maria João nunca mais chegavam, quer dizer, foram apenas uns minutinhos de espera, mas que pareciam durar eternidades. Senti que aquela casa um dia teria um significado especial para mim e quando entramos pela colossal porta branca relembrei-me a mim mesma que não estava a entrar numa mera instituição, mas antes na casa de algumas crianças. Tentei agir como gostava que algum estranho agisse se “invadisse” ou fosse convidado a entrar em minha casa.
Atravessadas três portas imponentes, estávamos no campo de jogos e as crianças não se viam. Comecei a ficar mais nervosa, sem saber o que esperar… Onde estariam elas? O que estariam a fazer? O que iríamos fazer com elas? Será que iriam gostar de nós? Falar connosco?
Vieram um a um, cada um à sua maneira, numa postura mais ou menos defensiva, mais ou menos calorosa, mas sobretudo com um sorriso fácil de arrancar. Depois de colagens, procura de letras, desenhos, cócegas e brincadeiras, surgiu de forma espontânea um abraço do menino mais reguila, que só tive que eternizar. Não, não foi só um mero abraço. Foi o primeiro e, para mim, funcionou quase como um sinal de que éramos “bem vindas”.
A despedida não existiu, foi um arrumar rápido da sala, cadeiras no sítio, fechar a porta e esperar até ouvir o bater dos pés, de um salto infantil, no último degrau das escadas. Ufa não caíram naquelas correrias e, portanto, está tudo bem. Quando chegamos cá fora já tinham evaporado. Na altura, se calhar, preferia ter ouvido um “xau” ou “até qualquer dia”, mas não. E hoje valorizo muito isso, pois é bem melhor/ mais confortante sermos melhor recebidas à chegada do que à partida, porque assim esta última dilui-se suavemente e quase não nos damos por ela… Porque no fundo hoje é domingo, e já só faltam dois dias para voltar a ver os meus meninos…
Sofia Dias, Voluntária na Oficina de S.José
O meu primeiro dia no Lar...
Estava ansiosa, inquieta ou nervosa... nunca cheguei a perceber bem.
Encontramo-nos todos antes de irmos para o Lar, para chegarmos juntos, havia sorrisos estampados em todos. Ao chegar deparamo-nos com uma grande e antiga casa cor de rosa, um rosa já gasto, mas que não conseguia ainda assim, tirar a magia que aquele lugar transmitia, talvez pelas expectativas que parecia sussurrar e de todas as histórias que tinhamos ouvido contar.
Ao entrarmos, fomos conhecer o responsável pelo Lar e portanto, também responsável por grande parte do bem estar daquelas Senhoras. Senhoras, que naquele dia ainda eram desconhecidas... sem nome, sem cara, sem personalidade nem individualização, sem histórias. Eram anónimas para mim. O que contariam? Como seriam? Que pensavam? Como reagiriam? O que sentiam? O que precisariam?
Fomos então descobrir. Fomos convidados a conhecer o Lar, a visitar os espaços onde
iriamos estar semanalmente e todas aquelas Senhoras, que se viriam a revelar tão próximas e importantes para todos.
Começámos a visita, todas as dúvidas iam ser esclarecidas. Foi a partir desse instante, que comecei a coleccionar todos os momentos e emoções, que ali vivia e sentia. Começámos no primeiro piso...Tanta alegria por nos verem, só o facto de lá estarmos fazia, incrivelmente, diferença. No meio de tantos beijinhos e de“Olá, como está?”, guardo especialmente, aquela Senhora que apesar de nunca me ter visto, tirou o seu gorro vermelho, e dirigiu-se a mim de forma tão alegre, entusiasmada e sem dizer uma única palavra, abraçou-me com força, deu-me a mão e começou a dar festinhas. Naquele momento, comecei a perceber qual seria o nosso papel semanalmente dentro do Lar.
Pássamos para o segundo piso, seria neste piso que estariamos grande parte do tempo e foi aqui, que comecei a conher todos os rostos que anteriormente não eram identificados...agora ganhavam nomes e expressões. Todas nos receberam de forma acolhedora, embora cada uma à sua maneira.
Apesar de nos primeiros momentos pensar sucessivamante “ Ai....e a gora o que é que eu faço? Como faço?... Afinal, o que é suposto fazer?” ao longo da tarde, tudo foi evoluindo naturalmente. Uma semente de cumplicidade, preocupação e amizade foi plantada nesse mesmo dia.
Com toda a simplicidade e espontaneidade, trocaram-se as primeiras impressões, os primeiros contactos, as primeiras converas, companhias e o mais importante os primeiros miminhos. Percebi a essência fundamental de estar no Lar...é isso, simplesmente Estar. Estar presente, ter um sorriso, um abraço e um beijinhho para dar, saber ouvir e, mesmo que não se troque uma única palavra, dar a mão. Fazer perceber, que não estão sós, que está ali alguém naquele momento ao seu lado e só para elas.
A semente, no fim desse dia, fez-me sentir que tinha uma nova responsabilidade,um novo e grande compromisso. Uma nova gaveta no coração onde iriam estar todas aquelas Senhoras, que algum tempo mais tarde, eu iria chamar de Vóvós. As nossas Vóvós.
Sara Bernardo, Voluntária no Lar das Fontaínhas
Hoje tive oportunidade de conhecer na igreja de S. Vitor Braga a vossa associação. Fiz o meu donativo, pois fico muito emocionada com o vosso trabalho. Ainda bem que há jovens no mundo para partilhar o bem, admiro-vos. Também sou jovem, e acredito, temos que ser nós, juntos, que temos que reconstruir um Mundo melhor. Bem esta história do lar emocionou-me muito, pois eu sou educadora de infância e admiro profundamente os profissionais dos lares, mas os que dão carinho, amor, beijos, abraços e uma mão amiga aos idosos que tantas vezes são abandonados, e muitas vezes esquecemo-nos que um dia seremos nós o idoso ou idosa. Desejo-vos a maior SORTE do Mundo e que alcacem todos, ou parte, dos vossos objectivos.
ResponderEliminarJoana Almeida