15 abril 2010

Partilhar, Crescer e Aprender !

"É procurando palavras que se encontram pensamentos."
(Joseph Joubert)


Aqui partilhamos um pouco do nosso primeiro dia de voluntariado nos projectos do GASPorto Jovens.


O ambiente escuro, pesado sentia-se mesmo ao virar da esquina. Lá estavam elas: “As 3 torres”. Um “cenário de guerra” acompanhava-nos à medida que subíamos a torre nº1. «Aquele pequeno buraco conta a história de um projéctil ou apenas o passar do tempo?».

Curiosamente, os andares superiores eram a terna oposição ao flagelo que assistiramos. Os canteiros floridos e bem tratados combinavam na perfeição com o sorriso inesperado, mas tão amável, da Dona Teresinha, na mais bela expressão de boas-vindas. Na ânsia de ajudar e sem qualquer tom intromissivo perguntámos-lhe se podiamos entrar; aquele doce sorriso que se desenhava no seu rosto esbateu-se - “A minha casa é muito pobre… Não tenho cadeiras para se sentarem…”; que comovente mágoa se desenhava nos seus olhos, que humildade, que sofrimento... "Estamos aqui para falar um bocadinho e estar consigo" e acabámos por entrar. É incrível como existem pessoas tão sozinhas, tão tristes e com tantas necessidades mesmo ao nosso lado; e nós, indiferentes na nossa absorvente azáfama diária, ousamos queixar-nos com tanta frequência de banalidades. Ao sairmos, limpou as lágrimas e deu-nos o melhor presente que poderíamos ter recebido: “Quando voltam?”


A segunda casa que fomos visitar foi a casa do Luís. Foi deduzível na sua expressão que ele pressentiu uma estranha agitação no seu quarto - a sua respiração acelerada denunciou-o. Este foi o “Olá” que recebemos do Luís. Depois de os seus olhos varrerem o quarto à procura da fonte de perturbação algo chamou definitivamente a sua atenção: “Adeus Luís!”, exclamei. Ele olhou-nos! Luís não nos viu entrar mas os seus olhos seguiram-nos à saída.

***

Este é um pequeno comentário da primeira visita do GASPorto ao bairro do Aleixo. Os sentimentos que a acompanharam são difíceis de descrever: O nó na garganta que senti logo ao ver as “3 torres” ainda não passou… Toda a expectativa e experiência que pensámos ter tido não nos preparam para aquele momento… Ainda assim a recompensa que recebemos num sorriso ou quando ouvimos “Quando voltam?”, é a melhor dádiva que um pequeno gesto poderia dar.

Rita João, Voluntária no projecto do Apoio Domiciliário


Bem, o primeiro dia foi mesmo uma experiência em grande ,primeiro porque eu o Luís fomos sozinhos e somos os dois caloirinhos do Gás, portanto foi tudo por nossa conta...eu estava um bocadinho ,digamos com uma mistura de nervosismo e ansiedade, mas o Luís acalmou-me logo :)

Ao chegarmos tivemos uma surpresa, havia reunião dos professores, tínhamos que ficar com os meninos a 100% para nós.

Ao inicio quando recebi a noticia fiquei com um bocadinho de receio (o que faço?? mas será que se lembram de mim??O que dizemos ??), mas assim que a Loquinhas me viu, disse o meu nome e me abraçou tudo passou e parecia que estava em casa, foi tão divertido que até me esqueci que estava a fazer voluntariado, ri-mos imenso e deu para eles nos conhecerem melhor.

Como era só eu e o Luis não estão bem a ver, quase nos "arrancavam os braços" porque queriam todos a nossa atenção, mas deu para estarmos com todos a rir e a brincar.

Adorei do fundo do coração e só de pensar que com o tempo vai ficar cada vez melhor, morro de ansiedade.

Beijinhos Gás, Estamos juntos!!!

Ana Teresa Cruz, Voluntária na APPACDM


Uma certa Sexta-Feira foi um grupo de alminhas, que nada mais tinha a fazer, visitar o centro MADI do Porto. A viagem até lá foi fantástica, uma viagem de 4 minutos alucinante! Tão maluca que até ficou o André pelo caminho, (naquela altura longínqua, há muito tempo atrás, em que ele ainda não tinha a carta)! …

Depois de ruelas e vielas chegámos todos ao destino, com muitas dúvidas e expectativas sobre a nossa próxima aventura… Eu não sabia o que esperar, portanto fui apenas de mente aberta, e alerta, preparado ou não, para o que viesse a seguir…

Quando entrámos fomos recebidos com muita hospitalidade pela directora do Centro. Falou-nos da história e do desenvolvimento do “APP”, dos “Centros”, onde fazem não só actividades ocupacionais mas também recreativas e didácticas. Informou-nos que, dependendo da faixa etária e do grau de deficiência mental, os “meninos” eram direccionados para locais onde pudessem aprender, trabalhar ou apenas sobreviver!

Depois da pequena recepção e introdução a directora levou-nos a conhecer as salas onde estavam os “meninos”. Todos muito carinhosos e afectuoso! Na última sala recebeu-nos muito calorosamente o Fernando, cheio de vida, a cumprimentar tudo e todos e a apresentar-nos todos os amigos e amigas! Era uma sala cheia de vida!

Depois de termos vistos toda a família, continuámos a ver as instalações: vimos a piscina, a sala de hidroterapia, de hidromassagem, a sala de relaxamento, muitas salas nas quais nenhum de nós se importaria de ter ficado! No fim, foi-nos mostrado o local onde eles trabalhavam, um sitio onde empacotavam sabonetes, faziam dossiers, molas, tudo e mais alguma coisa. Ficamos a saber que eles trabalham muito mais que nos, por causa da sua capacidade de concentração, pois, ao contrario de nos, não se distraem tão facilmente…

E o que senti com isto tudo? Senti alegria, carinho, espanto, humildade, admiração, surpresa, toda uma panóplia de sentimentos que não sei descrever!.. Senti-me pequeno e com uma grande admiração por todos os que trabalhavam no centro MADI. Senti um grande desejo de querer “amparar” aqueles que, sem nós, não sobreviveriam e ficariam “desamparados”...

José Meireles, Voluntário na APPACDM


“Constrói a tua fé, conquista a tua alma!” - Ser voluntário na Casa do Vale

Apesar de sermos um grupo, e estarmos juntos em tudo o que fazemos, a experiência de voluntariado é vivida muito intensamente de forma individual. O fazer algo pelos outros, não é mais do que fazer algo por nós, no sentido lato, não como indivíduos, nem como grupo, mas como Humanidade. Cada um se depara com diferentes dificuldades e conquistas, que são vividas de forma pessoal mas que perdem todo o significado se não forem partilhadas.

Assim sendo, aqui partilhamos, nós, os três mais recentes voluntários da Casa do Vale, aquilo que vivemos como tal, nesta (ainda curta) experiência, sob o mote que a inaugurou.

Nuno, Tiago e Rita - voluntários na Casa do Vale


Pediram-me para falar sobre a Casa do Vale. Não que seja alguém com conhecimento de causa ou experiência – mal conheço a instituição e ainda tenho dificuldade em acertar em todos os nomes -, mas porque foi aí que comecei como voluntário do G.A.S. Porto.

Como todas as novas experiências, no primeiro contacto, no começo, a imagem que fica é rápida, pequena e quase inteiramente bidimensional. A dimensão das emoções, dos desejos, das alegrias, dos sofrimentos, das razões é ainda uma descoberta que espero dentro em breve cumprir, tornando a Casa do Vale, uma realidade minha, tridimensional.

Ainda a 2D, diria que entrar na Casa do Vale é entrar numa dimensão colorida. Diria melhor, já de fora, já antes de entrar, as boas-vindas são dadas com rabiscos multi-coloridos, um agradável espelho da energia, da irreverência (artística) dos jovens.

A mim coube-me acompanhar o Flávio. No entanto, conhece-o melhor pelo relatório psicológico, pelo relato de outros que por ele próprio. Conheci-o na garagem da Casa, num jogo de Quem é quem com o João e o Bruno – um dos novos rapazes. Entrou no jogo a medo. Mesmo parecendo de vez em quando divertir-se, escapava, sumia da sala a cada oportunidade.

Pareceu-me muito reservado, focado no seu mundo. Um rapaz que não pede atenção mas, não o demonstrando, necessita de cuidado e alguma exclusividade.

Vou fazer os possíveis para lhe “tirar” alguns sorrisos e quem sabe, também ele os consigo em mim.

Nuno - Voluntário na Casa do Vale


Após ter vivenciado uma experiência de voluntariado e depois deixar o “bicho” adormecer durante algum período de tempo não resisti ao grupo do GAS, fui a uma reunião e agora estou a fazer voluntariado na Casa do Vale.

E a Casa do Vale provocou em mim o reacender de vários sentimentos maravilhosos que estavam à espera de renascer novamente, o poder ajudar alguém que realmente precisa, o encontrar um mundo paralelo onde a realidade é bem diferente da maioria das nossas.

O meu primeiro contacto com a casa foi encantador, todos os funcionários sem excepção foram super atenciosos e o Bruno (que se encontra a morar na casa), fez o favor de ser o meu guia mostrando me os cantos à casa, sendo esta extremamente grafitada, mas não no mau sentido como normalmente a palavra graffiti transmite mas sim pinturas bem originais e cuidadas feitas por este tipo de expressão artística.

Posteriormente conheci o Flávio (miúdo que estou a acompanhar), e revelou-se um miúdo de poucas falas e que se reserva muito no seu mundo mas isso apenas torna o desafio mais estimulante e espero poder ajuda-lo no que ele precise e saio da Casa do Vale com o desejo de voltar, fazer mais e melhor.

Tiago, Voluntário na Casa do Vale


Todas as semanas me encontro em frente a uma porta decorada com um enorme e colorido símbolo da paz. É assim que somos recebidos na Casa do Vale, nesta espécie de refúgio, mantido com carinho por toda a gente que o habita, onde tanto os funcionários como os meninos sorriem ao encontro de olhares e onde a curiosidade de conhecimento é mútua – com uma enorme e colorida sensação de paz e amizade.

Assim começa cada uma das minhas visitas à Casa, para me sentar calmamente com o “meu” menino e rever de forma personalizada aquilo que lhe é transmitido de forma impessoal, e que muitas vezes se perde, difuso numa sala de aula cheia de crianças diferentes, com diferentes dificuldades.

Ter explicações de matemática pode não ser a actividade mais divertida para um miúdo, mas procuro sempre inserir a matéria em situações concretas do quotidiano, porque, na verdade, são tudo ferramentas importantes para enfrentarmos o mundo. E o simples acto de receber atenção personalizada pode ser extremamente importante no desenvolvimento de qualquer jovem.

Até agora, posso dizer que a experiência de voluntariado tem satisfeito as minhas expectativas, mas a minha preocupação e meu objectivo é que esta sensação se aplique ao menino que acompanho na casa, e a todos os outros que me recebem sempre com muita amizade e observam curiosos esta “estranha” que se imiscui no seu dia-a-dia. E, felizmente, penso que é isso que tem acontecido.

Quando entrei para o GAS, não sabia bem o que esperar, mas sabia que queria fazer alguma coisa, que queria ajudar. E na Casa do Vale sinto que, com simples gestos, podemos realmente fazer uma diferença. Apesar de haver, obviamente, sempre muito mais que possamos fazer.

Ao fazer um balanço da situação, a única conclusão a que posso chegar é que devia ter entrado para o grupo há mais tempo, e que, apesar de ter chegado numa altura em que a minha vida universitária me ocupa realmente muito mais tempo do que tinha até agora, espero conseguir recuperar tudo o que não fiz até hoje e continuar a gerir o bem mais precioso e irrecuperável que tenho – o tempo.

Rita, Voluntária na Casa do Vale



Olá, companheiros de caminhada!

Vou contar-vos o meu dia de hoje, o primeiro de muitos que se esperam.

Apanhei o autocarro na circunvalação, perto de casa, o 205 pois era o que sabia onde parava, era o elemento mais certo nesta pequena aventura. Foi uma viagem muito comprida, muito trânsito, o autocarro passou por Monte dos Burgos, pelo Hospital de S. João, onde esteve uma porção de tempo parado, Areosa, depois por S. Roque e, enfim, chegou ao Cerco.

Claro que em todo esse tempo, que me pareceu interminável, ter-me-ão passado pela cabeça questões como «Será que vou encontrar o ATL, com o meu “bom” sentido de orientação?», «Será que é seguro?», «Será que as crianças me vão aceitar bem? Algumas, por vezes, conseguem ser muito cruéis. Serão assim?», «Como será a dinâmica do grupo?», «Será que conseguirei ajudar de alguma maneira?».

De facto não encontrei o caminho mas uma série de pessoas que fui encontrando pelo bairro, simpaticamente, mo foram indicando. Cheguei ao local, eram 14h30, apresentei-me, comecei por sentar-me com a Sofia que é muito acessível e exige muita dose de atenção, e me pediu ajuda. Ela e a Joana estão expectantes por receber as duas voluntárias com o nome delas, e todos eles já perguntam os nomes de cada uma e em que dias vêm. O Júnior fazia um desenho à minha frente, a Joana fazia um resumo de Estudo do Meio sobre os astros e a Sofia uma cópia sobre a linguagem gestual. Havia os que estavam no computador a jogar mas a maioria tentava acabar os trabalhos de casa para ir brincar.

Foram acabando os trabalhos de casa. A Sofia e a Joana queriam ir brincar às escondidinhas mas acabei com o Telmo a jogar MIKADO. Acabou por se juntar a nós a Ana, prima dele, e a Sofia. Não havendo «fair-play» na equipa, e porque, entretanto, a Sofia tinha ido brincar com a Joana, deixando a Ana zangada, convenci todos a jogar às «escondidinhas». Depois de «escondidinhas», surgiu as «caçadinhas». Fiquei a saber que as «caçadinhas» têm três estilos, a «caçadinha» normal, a com ajuda, e o «Stop», se não me engano. A dada altura, estava todo o grupo a jogar às «caçadinhas», apenas meia dúzia de meninos continuou a fazer os trabalhos de casa até às 17h50.

Começou a chover e fomos jogar ao «telefone estragado». Como estávamos a fazer muito barulho e, entretanto, parou, fomos para fora. Lanche às 16h30, e voltamos às brincadeiras.

Faltavam uns dez minutos para as seis da tarde, e aconteceu a interessante actividade de auto-avaliação de comportamento, constituída por sol (bom), nuvem (razoável) e raio (mau). Os meninos, justamente, avaliaram-se e falou-se sobre o que tinham feito mal durante o dia. Seguidamente, ficou decidido quem era o menino que levava uma anedota ou uma história para o dia seguinte. Todos eles, muito participativos, queriam ser os escolhidos.

Uma característica. As crianças estão muito bem trabalhadas enquanto grupo pelas responsáveis. Têm muito mau perder nos jogos. O que acaba por acontecer? Ou amuam e não querem jogar ou partem para uma atitude agressiva para quem diz que perdeu. É grave? De maneira nenhuma. Quando amuaram deixei-os reflectir na vida um bocadinho e depois, com alguma atenção e carinho, tentei voltar a puxá-los para o jogo.

Receios? Não é necessário. São crianças iguais às outras, muito fáceis de lidar, muito comunicativas. As responsáveis muito acessíveis e prazenteiras.

Considerações acerca de tudo isto? O sítio é tranquilo, as crianças são muito abertas, não te julgam de maneira nenhuma. Dás um sorriso e, de repente, acabas por querer ficar a tarde toda, apesar dos compromissos que tens marcado.

E assim acabou o meu dia, eram 18h, e foi assim que o vi.

Bárbara Veiga, Voluntária no projecto Cerco

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